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quinta-feira, 3 de abril de 2014

Você usa o celular durante as refeições que faz com o seu filho?


A mensagem e o e-mail podem esperar meia hora. No momento de comer, a atenção deve ser dedicada exclusivamente às crianças
Num restaurante japonês na zona oeste de São Paulo, mãe e filha sentam-se à mesa. A mãe conversa pelo celular. A filha, de não mais que 5 anos, espera pacientemente para olhar o cardápio. Quinze minutos se passam e a ligação telefônica não se encerra. A mulher pede, enquanto fala ao telefone, dois rodízios – a criança, finalmente, tem com o que se entreter. Meia hora se passa e nada acontece. Entre um hashi e outro, a garotinha finalmente desiste: supera sua timidez e começa a vagar pelo restaurante buscando companhia para conversar. Claro, sem se esquecer de voltar à mesa esporadicamente para pegar um sushi. E a mãe? Continua no celular até pagar a conta, até sair do restaurante, até chegar ao carro, até...

Essa situação, acredite, não é uma ficção. Ela foi presenciada recentemente por uma repórter. E você já deve ter visto algo parecido também. Esse hábito, cada vez mais corriqueiro nos dias de hoje, motivou, inclusive, um estudo publicado no periódico científico Pediatrics neste mês. Os cientistas da Universidade de Boston (EUA) observaram o comportamento de 55 adultos que acompanhavam seus filhos em restaurantes de fast food, na zona metropolitana da cidade. Desse grupo, 40 deles usaram o celular durante a refeição e demonstraram focar atenção somente no aparelho. Os pesquisadores optaram por não interagir com os frequentadores do restaurante já que as famílias poderiam se sentir intimidadas e não apresentariam o comportamento natural. Dentre as mesas analisadas, as crianças tinham de 0 a 10 anos - 54% delas em idade escolar. Já que não houve abordagem direta, os cientistas estimaram a data de nascimento de cada uma a partir da altura e do grau de desenvolvimento dela.

Mas por que devemos evitar o uso do smartphone nesse momento? De acordo com a psicóloga Rita Calegari, do Hospital São Camilo (SP), dar atenção às crianças é essencial para o crescimento infantil saudável. Há quatro momentos no dia que especialmente requerem sua dedicação aos filhos: durante a higiene (dar banho ou escovar os dentes), brincadeiras, sono e... refeições. “A alimentação é a base do desenvolvimento físico. Os pais não podem ser negligentes à mesa”, explica a especialista. Ou seja: preocupar-se em oferecer um cardápio saudável é tão importante quanto dar atenção às crianças. Vale lembrar que o almoço ou o jantar não cumpre simplesmente a função de alimentar – são também ocasiões para confraternizar e sociabilizar. Enquanto come, seu filho contará como foi o dia na escola, por exemplo. E você pode relatar a ele algo divertido que tenha ocorrido durante o expediente no trabalho. Essa troca de histórias trará lembranças para o futuro. E mais: com a construção dessa intimidade e confiança ficará mais fácil você saber quando algo não estiver bem com ele também.
No estudo, a maior parte das crianças passou a se comportar mal diante da atitude relapsa dos adultos. “Se elas estiverem acostumadas a conversar e, de repente, os pais começam a usar o celular, farão de tudo para chamar atenção. Pode ser um protesto atirando comida, por exemplo”, explica Calegari. Já entre as que veem como padrão o fato de os adultos usarem o celular à mesa, o comportamento passa a ser apático, menos explorador. A ausência de diálogo não estimula a curiosidade delas. Sem contar que desviar o olhar do seu filho, principalmente se ele for pequeno, pode representar um risco à saúde dele, como de engasgar ou  comer algo impróprio.
É claro que, se estiver aguardando alguma ligação urgente, não haverá problema em atendê-la – desde que seja uma exceção. Explique à criança o que está acontecendo, peça licença e resolva o problema. Fora isso, aproveite a própria tecnologia a seu favor. Em diversos aparelhos, você tem a possibilidade de programar na tela de bloqueio de muitos aparelhos para ver o remetente da mensagem e o início do texto, sem necessidade de manusear o celular para descobrir o assunto dos comunicados.

De quebra, agindo assim vai ficar mais fácil seu filho entender que a hora do almoço não é momento para ele brincar com os gadgets. Os aparelhos podem ficar como alternativa para entretê-lo na espera da consulta ao pediatra, dentista ou enquanto vocês aguardam o jantar chegar em um restaurante. “A tecnologia pode fazer bem, se usada com bom senso. Mas nada substitui a atenção”, reforça a psicóloga.
Fonte: Site Crescer

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