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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Como criar uma criança sem deixá-la mimada.

Atitudes simples que os pais tomam desde o primeiro ano de vida da criança ajudam a mostrar a importância de respeitar o próximo e fazê-la entender que o mundo não gira em torno de seu umbigo.
Quando falamos em crianças mimadas vem à cabeça aquela cena típica de uma se jogando no chão da loja de brinquedos e gritando por aquilo que a mãe se nega a dar. Mais do que isso (e pior): no final da história, ela consegue o que quer. O conceito de mimado não se resume a esse tipo de comportamento, mas tem relação com ele.

Segundo Vera Zimmermann, professora de psiquiatria da Unifesp, a criança mimada é aquela que não foi educada para aceitar uma frustração e sempre reage querendo se posicionar no centro das atenções. Claro que pai nenhum deseja ter um filho assim, mas nem sempre os casais percebem que estão estimulando comportamentos ruins. Educar uma criança é difícil mesmo, mas a boa notícia é que atitudes simples, praticadas diariamente, fazem a criança entender, aos poucos, que ela não pode tudo.

Durante os primeiros meses de vida, o bebê precisa ser satisfeito em todas as suas necessidades. Ao menor sinal de reclamação, os pais correm para dar leite, ninar ou aquecer. Afinal, ele ainda é totalmente dependente da família para sobreviver. Essa dedicação integral também é importante para que se forme uma base sólida de autoestima. Mas, aos poucos, a criança se desenvolve e começa a interagir com o mundo. A partir de então, ela precisa ter limites e regras para entender que nem tudo é para já e que nem todos os seus desejos serão satisfeitos. Afinal, é assim que a vida é. Com a ajuda da psiquiatra, listamos algumas dicas para você colocar em prática desde cedo.

Bebês

Durante o primeiro ano de vida, o bebê já passa por algumas frustrações, como querer sair do cadeirão quando é hora de ele comer e de ficar ali. Porém, como ainda não traduz seus sentimentos em forma de palavras, pode manifestá-las por meio de gestos. Bater no rosto da mãe ou do pai ou puxar o cabelo são algumas dessas formas. Mesmo pequena, os pais devem mostrar que aquilo não se faz. Basta segurar a mão do bebê, fazer contato visual e demonstrar que aquilo é errado. Os pais também precisam entender o que causou essa reação, para saber se é algo que podem resolver ou com o qual a criança terá que lidar mesmo.

A partir de 1 ano
Conforme a criança cresce, ela também entra em contato com plantas e animais. Está aí uma ótima oportunidade de ensiná-la a cuidar do mundo ao seu redor. A tendência da criança é sempre tocar as coisas. No caso de plantas, os pais podem mostrar que não se deve arrancar as folhas de uma árvore ou um arbusto e, caso isso aconteça, pedir que os filhos façam uma reparação, como regar a muda. No caso de convivência com animais (que deve acontecer sempre com a supervisão dos pais), o próprio bicho pode impor seus limites e mostrar que com ele nem tudo é permitido – um exemplo é o cachorro rosnar se ela puxa o rabo dele. Segundo Vera, por meio desses contatos, a criança percebe que, assim como ela recebe cuidado de seus pais, precisa cuidar de coisas a seu redor.

Creche e pré-escola
Os primeiros contatos com crianças da mesma faixa etária são muito interessantes. Seu filho terá de aprender que cada um tem o seu jeito e suas preferências, e que às vezes é preciso ceder. O brinquedo será motivo de muitas brigas e aprender a dividir algo com o outro será um dos desafios nessa fase.

Apesar de a criança já ter necessidade de verbalizar seus desejos e suas frustrações, o adulto precisa impor limites com a ajuda de gestos. Ou seja, ao dizer não, sinalize com a mão, olhe diretamente para a criança e mantenha um tom de voz calmo, mas firme. É possível que a criança tenha ataques de fúria, acompanhados de choro e até mesmo agressões físicas, como mordidas. Exigir um pedido de desculpas por esse comportamento é fundamental.

Dos 3 aos 6 anos

Nessa fase, a criança já está mais adaptada ao convívio social e vale reforçar, por exemplo, noções como desperdício. Ela pode aprender, aos poucos, a diferenciar o necessário do exagero. Atitudes como doar brinquedos que já não são usados, se desfazer de alguma roupa cada vez que uma peça nova é comprada ou colocar no prato apenas o que se come são algumas ideias. Saiba que, com cerca de 3 anos, a criança já entende que aquilo que ela doa não voltará mais e tem capacidade para definir qual item não é mais tão importante.

No contexto familiar, os pais devem, como sempre, incentivar e valorizar a ajuda da criança, mesmo que ela pareça pequena. Ela pode organizar os brinquedos, estender a colcha na cama, colocar a roupa suja no cesto ou levar o prato para a pia. Essas ações podem fazer parte da rotina sem que se tornem um esforço chato para os filhos.

A partir dos 7 anos

A criança começa a entender melhor as regras – e pede por elas. Até então, já compreendia limites impostos por seus pais, mas, no caso de brincadeiras, por exemplo, ainda seguia sua imaginação. No entanto, por ser uma fase muito competitiva – a vontade de ganhar e de ser o melhor é enorme. Por causa dessas características, é quando algumas crianças roubam para ganhar, inventam regras e brigam por elas, evitam jogos ou esportes em que não são tão experientes e ficam muito frustradas quando perdem.

Para não abalar a autoestima dos filhos, os pais precisam mostrar que habilidades podem ser desenvolvidas e deixar claro que não dá para ser 100% em tudo. Nem pense em aplacar a frustração da criança deixando-a ganhar sempre. Você pode ajudá-la a melhorar e, ao mesmo tempo, ensiná-la a reconhecer a habilidade do outro. Também não caia na tentação de colocar o seu filho sempre como vítima da situação – se ele foi mal na prova, não necessariamente a prova estava difícil, pode ser que não tenha estudado o suficiente mesmo. A atitude exatamente oposta, de culpar a criança por tudo, também não é saudável. Diálogo e carinho são fundamentais. O mesmo vale para quando você flagrar o seu filho roubando em um jogo de tabuleiro, por exemplo. Além de reforçar que essa atitude não está correta, dê exemplos, como quando o time de futebol preferido dele perdeu. É uma forma de ele entender que não dá para ganhar sempre.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

10 dicas para estimular a criança a andar.

“Meu filho andou com 11 meses.” Pronto! Basta ouvir isso de outra mãe para você entrar em desespero com o seu filho que acabou de completar 1 ano e ainda não anda? Fique tranquila! Leia esta reportagem até o fim e você vai ver por que não é preciso desespero e o que pode fazer para ajudar seu filho nessa etapa do desenvolvimento dele. Mas lembre-se: o principal estímulo em qualquer fase é o que carinho que você dá a ele, todos os dias. 

Esqueça as comparações
Essa é a primeira dica porque é também motivo de ansiedade dos pais. Não há uma idade certa para a criança andar, e sim um período - entre 10 e 18 meses - para que isso aconteça. Se o seu filho só deu os primeiros passos sozinho com 1 ano e 4 meses, e o da sua irmã com 1 ano, não quer dizer que ele tem um atraso neurológico ou neuromotor ou que foi pouco estimulado por você. É o tempo dele! Apenas isso. 

Deixe-o explorar
Deixe o bebê experimentar o chão, fazer suas próprias rotas, procurar os melhores caminhos, descobrir texturas com os pés e as mãos. Claro, fique sempre por perto.
 
Incentive
Você pode, por exemplo, se colocar a um metro da criança e chamá-la. Ela irá se esforçar para chegar até você. Também pode ajudá-la a ficar em pé na ponta do sofá para que caminhe até a outra – onde você a espera. Usar brinquedos é outra dica. Afaste-os para que seu filho, aos poucos, tente pegá-los.
 
Com as suas mãos
Eles adoram! Segure as duas mãozinhas do seu filho e vá caminhando junto com ele. Depois, segure apenas uma, até que ele se sinta seguro e você consiga soltar a outra. Tenha calma. Isso pode não acontecer na primeira vez. Segure a ansiedade!
 
Dê segurança
A posição ereta e os primeiros passos significam um novo mundo para o bebê. A capacidade de locomoção o leva a se arriscar – é aí também que a atenção dos pais será decisiva. Se seu filho tropeçar ou derrubar algo, alerte-o de forma carinhosa. Broncas agressivas ou impacientes podem retrair a criança e até atrasar seu desenvolvimento motor.
 
Não o assuste
OK. Dá até um frio na barriga de ver aquele bebê andando todo desengonçado a ponto de cair a qualquer momento. Mas a sua postura é fundamental para que ele não se assuste (isso pode até atrasar o tempo de ele andar). Se por acaso, cair para trás e bater a cabeça, socorra-o, mas sem (pelo menos mostrar para ele...) desespero. Então, conforte-o e observe se não fica sonolento ou vomita. Se perceber qualquer modificação no comportamento do seu filho, ligue para o médico.
 
Esqueça o andador
Além de ser responsável por acidentes com crianças, o acessório, diferente do que se imagina, não estimula a criança a andar. Ao contrário. O andador pode atrasar o desenvolvimento psicomotor do seu filho, fazendo com que leve mais tempo para ficar de pé e caminhar sem apoio. Isso sem falar que ele encurta uma etapa importante, o engatinhar.
 
Calçado ideal?
O melhor é deixar seu filho descalço. Além de dar mais aderência, ao sentir o chão, ele se sente mais seguro. Meias antiderrapantes também são boas opções, principalmente para os dias frios. Esqueça calçados duros demais. Opte por tênis molinhos, confortáveis e no tamanho certo.

Um lugar diferente
Leve seu filho para passear num parque ou numa praça. Um bichinho ou uma folha grande de árvore pode aguçar sua curiosidade e ser um estímulo para que queira andar e chegar mais perto.

Sobre quinas, móveis e mais
Ao mesmo tempo que é uma delícia ver seu filho andar, nessa fase (que inclui o engatinhar) é preciso ficar atento com tudo o que estiver aos olhos dele. Uma toalha de mesa que pode puxar, quinas de móveis, escadas, objetos pequenos e pontiagudos e até móveis fáceis de virar. Com todas essas sugestões, vale reforçar: “Aproveite essa fase do andar. Aproveite todas as fases da criança, sem neura”, diz Edilson Forlin, ortopedista pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe (PR).

Fontes: Edilson Forlin, ortopedista pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe (PR); Hamilton Robledo, pediatra do Hospital São Camilo (SP); Luiza Batista, coordenadora de políticas públicas da ONG Criança Segura; Maria Amparo Martinez, pediatra do Hospital Santa Catarina (SP).

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Separação conjugal. Quais as consequências para os filhos.

Atualmente, muito mais do que interrogar as condições que levam um casal a se separar, os psicólogos têm se debruçado sobre os efeitos produzidos nos filhos pela separação dos pais. É unânime o reconhecimento de que esta situação é traumática e causa muito sofrimento para as crianças, além de outros prejuízos de naturezas diversas que podem perdurar por mais tempo do que se imaginava. Os filhos têm sido apontados como os membros da família que mais sentem a separação, mesmo quando esta é unanimemente reconhecida como a melhor escolha para um casal.

De acordo com as pesquisas que têm sido desenvolvidas pelos psicólogos, as formas que esse sofrimento adquire nas crianças variam de acordo com a faixa etária:

- Choro, agitação, alterações nos batimentos cardíacos e aumento da pressão arterial sinalizam a expressão dos sentimentos nos mais novos. Mesmo os bebês que ainda não entendem o que está acontecendo já são capazes de captar os estados de tensão presentes no ambiente e de se “darem conta” de que algo não vai bem.
- Atitudes medrosas e regressivas caracterizam as respostas das crianças em idade pré-escolar. Este grupo seria o mais atingido pelos efeitos nefastos da separação porque, em função do pouco desenvolvimento cognitivo, as crianças dessa idade não conseguem compreender o que, de fato, está acontecendo na família.
- Fantasias de que a separação dos pais é temporária caracterizam as respostas das crianças entre quatro e cinco anos de idade. Afinal, é isso o que ocorre quando elas brigam com os amigos.
O sentimento de culpa surge geralmente entre as crianças que estão entre os cinco e os seis anos. Elas imaginam terem sido a causa da separação dos pais, seja porque haviam “pensado” nisso ou até mesmo “desejado” que isso acontecesse, seja porque fizeram alguma coisa errada e a separação seria uma consequência deste erro.
- Sentimento de abandono, agressividade dirigida aos pais, prejuízo no rendimento escolar e alterações de comportamento são mais frequentes entre as crianças acima de seis anos. Se, por um lado, elas já conseguem compreender melhor as razões que deram lugar à separação dos pais, por outro, a pouca maturidade ainda não as livra dos efeitos nefastos deste tipo de solução para os impasses conjugais.
- Ansiedade, instabilidade emocional, baixa autoestima e dificuldade para manter relacionamentos amigáveis ou amorosos por medo de traição, mágoa ou abandono são citadas como consequências colhidas em longo prazo, geralmente entre pré-adolescentes e adolescentes (Revista Crescer, s/d; Granato, s/d; Maneira, s/d; Prado de Toledo, 2007; Rico, s/d; Tessari, 2005).

Apesar dos dados acima, essas pesquisas também apontam outro aspecto: há indicações de que a separação não causa só efeitos danosos. Existem indivíduos que conseguem superar as perdas em jogo nessa situação. Muitas crianças apresentam maior capacidade adaptativa diante do afastamento de um dos pais, da perda da segurança de pertencer a ambos e de ser cuidada pelos dois, da mudança na rotina familiar e no cumprimento das tradições que eram praticadas.

Como é possível verificar, a psicologia tem pesquisado tanto os bons quanto os maus efeitos da dissolução familiar. Mas existem pontos sobre os quais as reflexões psicológicas deixam muito a desejar: elas não interrogam o que significa para uma criança a separação dos seus pais, muito menos qual é a natureza da perda ocorrida nesses casos. A descrição pormenorizada dos aspectos emocionais, a divisão dos efeitos por faixas etárias e a quantificação dos dados a partir dessas categorias não permitem refletir sobre a função da família na constituição subjetiva, sobre a natureza do sofrimento psíquico de uma criança nesta situação, sobre as razões pelas quais as crianças em idade pré-escolar são as mais atingidas pelos efeitos negativos da separação. Será que o “pouco desenvolvimento cognitivo” é mesmo o grande vilão da história? É isto o que impede que as crianças entendam o que está acontecendo com a família? Onde situar o processo cognitivo, afinal? Quais as perdas e os prejuízos existentes para a criança quando os seus pais se separam? Deixe aqui sua opinião...

terça-feira, 10 de junho de 2014

10 maneiras de criar um filho educado

Dizer “por favor”, não interromper uma conversa, se comportar na hora da refeição... Algumas vezes, seu filho pode ter dificuldade em compreender regras sociais. Mas, com algumas estratégias – e muita paciência! –, é possível melhorar o comportamento dele.
Quem nunca ficou sem graça depois de o filho receber um presente e não agradecer? Ou teve que segurar o riso quando ele surgiu, durante uma visita na casa de amigos, com uma tigela de doces que foi buscar sozinho na geladeira do anfitrião? Atitudes como dizer “obrigado” e não mexer nas coisas de outras pessoas são regras que as crianças aprendem aos poucos – e sempre com a sua ajuda. A seguir, saiba como ensinar os dez principais mandamentos de boas maneiras para que seu filho faça bonito em qualquer situação social.

1. Dizer "por favor"
O primeiro passo para que as crianças aprendam essa palavra é, claro, ouvi-la dentro e fora de casa. Ou seja: se esse for um hábito diário entre os adultos e você der o exemplo, será mais fácil cobrar o mesmo comportamento dos pequenos. E não espere que seu filho tenha tudo na ponta da língua tão rapidamente. É preciso lembrar o pedido a cada situação até que, aos poucos, ele adquira o costume e saiba quando usá-lo. “Em casa, a ‘palavrinha mágica’ vem de mim, do pai e da babá. Se eles não pedirem algo com ‘por favor’, não cedemos. Meu conselho é pensar nisso como um treino que envolve todas as pessoas à volta da criança”, diz Ana Vaz, consultora de etiqueta e de imagem e mãe de Theodoro, 6 anos, e Helena, 4. Insistir, portanto, é necessário - até porque esse entendimento está relacionado à faixa etária em que a criança se encontra. Apenas por volta de 4 ou 5 anos é que elas vão compreender normas sociais mais facilmente, como explica Teresa Ruas, terapeuta ocupacional especialista em desenvolvimento infantil, de São Paulo (SP). “Até 2 ou 3 anos de idade, as crianças ainda são egocêntricas, não conseguem se colocar no lugar do outro. E essa característica faz parte do desenvolvimento cognitivo. Só mais tarde vão entender conceitos como igualdade, respeito e solidariedade”, explica.

2. Emprestar o brinquedo
Vale seguir a mesma lógica da fase em que se encontra a criança. Se ela tem até 3 anos, em média, terá dificuldades em entregar algo que é dela para outra pessoa ou entender que o emprestado será devolvido. Mas, quando não é possível escapar da situação, procure inicialmente estabelecer trocas. Ter à mão alguns objetos repetidos (mais de uma bola, mais de um carrinho) também é outra dica, caso você saiba que vai encontrar outras crianças da mesma idade ou quando a visita é na sua casa. Conviver com irmãos, primos e colegas de escola também torna o processo mais fácil. “Jogos e brinquedos que favorecem o ‘brincar junto’ contribuem bastante para esse aprendizado”, explica Everson Caleff, diretor educacional do Colégio Marista Santa Maria, em Curitiba (PR). A criança pode aprender, dessa maneira, que ter um companheiro pode até ser mais divertido do que usar apenas aquilo que é “dela”.

Obrigar seu filho a entregar o brinquedo, no entanto, pode não ser a melhor saída. É melhor estimulá-lo a dividir e chamar o amigo para brincar junto. O contrário também vale: quando seu filho pede algo emprestado, a resposta pode ser “não” - e é necessário aprender isso também. Para controlar o choro nessa hora, busque alternativas para distrair a criança. “Eu sempre negocio uma troca, mas quando não dá certo, tento mudar o foco para outra brincadeira”, diz a empresária Kátia Parreira, mãe de Carolina, 6 anos, e Gabriela, 2 anos e 8 meses.

3. Agradecer quando ganha um presente
Nessa situação, o importante é mostrar ao seu filho que outra pessoa se importou com ele e, por isso, merece um agradecimento. O mesmo vale para quando recebe um elogio. E não tem segredo: a recomendação é pedir à criança que agradeça sempre - mesmo que saia aquele “obrigado” meio atravessado. Se isso acontecer, não dê bronca. O motivo está na famosa sinceridade infantil. “Quando a minha filha realmente gostava, o ‘obrigada’ saía junto com um ‘adorei!’, com um abraço... Mas quando o presente não era muito interessante, o agradecimento saía, mas com um sorriso meio amarelado. Isso foi impossível mudar”, diz a professora de Educação Física Nadia Regina Dalla Barba, mãe de Marina, 12.

A especialista Teresa explica que há ainda mais uma questão a ser levada em conta: a proximidade (ou a intimidade) com a pessoa que deu o presente. “A criança pode ter ou não empatia por quem deu o presente. E isso também influencia a resposta”, diz. Não dê muita importância ao assunto, pois geralmente o adulto que presenteou ou elogiou entende a situação. Mas, se você ficou sem graça com a atitude de seu filho, é só pedir desculpas mais tarde para quem o presenteou.

4. Pedir desculpa
Não basta apenas obrigar seu filho repetir a palavra. É preciso explicar o motivo de ele pedir desculpas. E, assim como nas outras situações já citadas, considere a idade da criança, pois o pedido também está relacionado à aquisição do senso moral. Se o seu pequeno de 3 anos empurrou o amigo, por exemplo, o ideal é explicar que aquilo não é certo e incentivá-los a fazer as pazes (sem muitas delongas sobre o assunto). Depois, por volta dos 4 anos, ele vai compreender melhor o sentido de certo e errado e, então, vale uma explicação mais longa, falando que não é legal fazer com os outros aquilo que não gostamos que façam com a gente e que, quando isso acontece, é preciso reconhecer o erro e se desculpar. A partir dos 6 anos, quando esses conceitos estão mais claros para a criança, vale investir em algum tipo de reparação, ou seja, em uma atitude que aconteça a partir do pedido de desculpas. O objetivo é ensinar a importância de respeitar o outro e não banalizar o “sinto muito”. E, sim, será preciso repetir a mesma ação até a criança entender que aquilo não pode ser feito. “Às vezes, percebo que meus filhos dizem 'desculpa’ quase ‘rosnando’ e eu peço para falar de novo”, diz Ana Vaz. Isso porque o pedido não pode vir só “da boca para fora”, para se livrar da bronca. Ele deve ser feito porque a criança realmente entendeu o erro.

5. Não interromper enquanto os adultos conversam
Principalmente por volta dos 2 anos, a criança vai interromper o papo. E esse é um comportamento normal, que faz parte da fase egocêntrica pela qual ela está passando. “Na verdade, o estranho seria nunca interromper, já que, nesse período, ela se considera o centro das atenções”, afirma Teresa. Portanto, tente incluir seu filho de alguma maneira. Está em uma festa de família? Peça para que ele fique perto e que interaja também coma pessoa com quem você está conversando. Ou deixe o bate- papo para mais tarde. “Quando estou com as crianças, não costumo ter longas conversas com outros adultos. O programa é realmente mais voltado a elas. Mas, quando acontece, não tem segredo: é só pedir. A mais velha já sabe, só com um olhar meu, que é para esperar um pouco”, conta Kátia Parreira.

No caso de seu filho ser um pouco mais velho (a partir de 4 anos), já é mais fácil explicar a situação e dizer que, quando duas ou mais pessoas conversam, cada uma tem sua vez para falar - e que é preciso esperar. Mas, não se esqueça: assim como toda regra de convívio social, será necessário repetir mais de uma vez.

6. Não cutucar o nariz
A criança passa por um processo acelerado de conhecimento durante a primeira infância. E esse tipo de “exploração” do corpo é comum entre a garotada. O mesmo vale para “puns” e arrotos. O ideal é explicar que são atitudes privadas - assim como é preciso fechar a porta para fazer xixi, por exemplo. Essa é a tática da advogada Carolina Santana Maluf, mãe de Ricardo, 6 anos. “Cutucar o nariz é mais forte que ele (risos). Mas costumo explicar que existem algumas coisas que não podemos fazer na frente de outras pessoas, como limpar alguma sujeira do nosso corpo”, diz Carolina. Para os mais novos, principalmente, é preciso dizer sempre, todo dia, até que entendam. Viu seu filho com o dedo no nariz no meio deuma festa de casamento? Leve-o ao banheiro para limpar. E pronto. Evite dar um tapinha na mão ou chamar atenção para o fato. Geralmente, ele nem se dá conta do que está fazendo. A sugestão de Ligia Marques, consultora em etiqueta e marketing pessoal, é combinar com seu filho um código discreto ao chamar sua atenção - e ter paciência. Como tempo, ele vai aprender.

Também vale apelar para o bom humor, como nos versos de Guto Lins em Manual de Boas Maneiras - para Crianças de Todas as Idades (Ed. Globinho): “Meleca se tira com lenço, na pia ou no chafariz. Só não é muito legal por a mão no nariz.”

7. Não abrir a geladeira na casa dos outros
Essa atitude está relacionada à ideia de “nossa casa” e “casa dos outros”. A alternativa é fazer seu filho compreender que ele não pode mexer no que não é dele (o que inclui a geladeira). Não precisa dizer ao seu filho - principalmente se ele ainda for bem novinho - , que é falta de educação na frente de todo mundo. Até porque o adulto que é dono da casa costuma reagir com bom humor à cena. De qualquer maneira, vale sempre reforçar a recomendação de que, quando está fora de casa, é preciso pedir quando deseja alguma coisa. “Também pergunte, por exemplo, se ele gostaria que as pessoas que vão à sua casa remexessem em tudo”, diz a consultora de etiqueta Ligia. Aos poucos, a criança vai aprender como se comportar nessas situações.

8. Respeitar os mais velhos
Seja com os mais próximos, como os avós, ou com aqueles que vê de vez em quando, como um vizinho, seu filho provavelmente vai conviver com pessoas mais velhas. “Para que aprenda a respeitá-las, sempre digo ao Lucas, hoje com 7 anos, que ele não deve fazer a alguém o que não gostaria que fizessem com ele”, diz Ellen Julião Bachiega, arquiteta e designer de festas infantis, mãe também de Gabriel e de Rafael, gêmeos de 1 ano e 10 meses. Além do diálogo, o ideal, como sempre, é partir de situações rotineiras. Explique ao seu filho, por exemplo, que o jeito de brincar com o avô é diferente da maneira com que ele se diverte com o amigo da escola e que eles têm o seu próprio tempo. Também vale lembrar que os idosos são pessoas mais experientes e, por isso, devem ser ouvidos. “Diga que eles já viveram mais e, por mais ‘chatos’ que às vezes possam parecer, fazem e dizem as coisas com a intenção de ajudar”, diz Ligia.

Outra dica para fazê-los compreender a maneira de se relacionar com os mais velhos é ter a literatura como aliada. Que tal passar a tarde em uma livraria e ler, com as crianças, obras que abordam a relação com os avós (ou com os idosos em geral), como as de Monteiro Lobato? É um jeito mais “leve” de tratar a questão. Por fim, dê o exemplo. Não adianta você exigir que seu filho trate bem os mais velhos se você mesmo não dá lugar para um idoso sentar ou reclama quando passam na sua frente em uma fila.

9. Fazer as refeições com tranquilidade
O ideal é tornar a hora de comer a mais organizada possível. Acompanhe a criança enquanto ela se alimenta e evite interrupções que possam distraí-la. Também diga que é importante ficar sentado durante a refeição para que a comida não faça mal. Ana Vaz conta que, com os seus filhos, faz uma brincadeira: quem ficar na mesa até o fim, ganha pontos.

Quando o almoço ou jantar é em um restaurante, distrair a criança é uma boa alternativa. Uma dica é procurar locais com áreas de recreação (mas combine que poderá brincar só depois de comer) e levar brinquedos, jogos, papel e caneta para que se distraia enquanto a comida não vem. Explique também que, se ela se levantar antes de terminar de comer, seu prato será retirado. Outra dica para o caso daqueles muito agitados (em casa ou fora) é “cansá-los” antes da refeição: leve para um passeio ou deixe que brinque bastante antes de comer.

Quem tem mais de uma criança em casa e percebe diferença entre as duas, respeitar o ritmo de cada uma também é necessário. O filho mais velho do poeta e designer Guto Lins, pai de João, 13 anos, e Antonio, 9, é muito autônomo e acelerado. “Ele sempre comeu mais rápido do que o irmão e, por isso, saía antes da mesa”, diz. Lidar com essa diferença pode ser uma boa estratégia enquanto os filhos são pequenos. Depois, devem ter paciência para só se
levantar quando todo mundo acabar.

10. Saber esperar
Seja na fila do parque ou na sala de espera do consultório médico, é comum ver uma criança inquieta. Essa ansiedade começa ainda na fase de bebê e está relacionada à rapidez com que ele tem suas necessidades atendidas. É preciso ter paciência para que, aos poucos, seu filho aprenda a ser mais paciente, mas há algumas atitudes suas que podem ajudar. Quebrou ou perdeu um brinquedo? Não precisa comprar outro imediatamente, diga que em outra ocasião você dá um novo, ou que tal pedir para o Papai Noel? Quando a ansiedade está relacionada a alguma viagem ou festa que vai acontecer, espere para contar sobre o evento quando estiver mais próximo à data.

Em situações que não dá para escapar da espera, procure sempre ter na bolsa um brinquedo, um tablet, um livro, um game ou, dependendo do horário, algo para comer ou beber. Por fim, sempre vale repetir (mesmo para as mais novas) que “tudo tem a sua hora”. A criança precisa saber que chegará a sua vez, mas isso precisa ser mostrado com ações. Atue sempre da mesma maneira com seu filho até o momento que ele consiga ter o que está esperando. Outra dica: se está em um restaurante, por exemplo, que tal explicar (de um jeito que ele entenda, claro) como se dá o processo de preparação de um alimento? “Fale do cuidado e do tempo que é necessário para preparar aquilo que comemos. Provavelmente, ele não vai entender na primeira, segunda ou terceira vez. Mas, aos poucos, começa a compreender que nem tudo está pronto e acabado, esperando para atender seus desejos”, diz o educador Everson Caleff.

Outras fontes: Fernanda Gimenes, diretora do currículo de português da Escola Cidade Jardim / Play Pen, de São Paulo (SP), e Luciana Lapa, psicóloga e orientadora educacional do ensino fundamental 1 na Escola Stance Dual (SP)

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Toda criança precisa ir ao fonoaudiólogo?

O alerta de que existe um problema, em geral, vem do pediatra ou da escola.
Você vai achar lindo quando ele (finalmente!) balbuciar os primeiros sons. E logo... pode começar a apontar sem dizer nada, falar errado, gaguejar. Descubra aqui o que é normal e quando procurar um especialista
Não. A consulta deve ser marcada se o seu filho apresentar alguma alteração ou atraso na fala que não seja esperado para a faixa etária dele. E não existem dados nacionais, mas estima-se que 5% das crianças vão ter algum tipo de dificuldade. O alerta de que haja um problema, em geral, vem do pediatra ou da escola. “Mas sempre que os pais suspeitarem de alterações devem procurar orientação do médico que acompanha a criança. E, em todas as consultas, o progresso da linguagem é avaliado”, afirma Sylvio Renan Monteiro de Barros, pediatra clínico e membro da Sociedade Brasileira de Pediatria. Uma pesquisa norte-americana, feita com 88 crianças durante 20 anos, comparou esse processo de aquisição da linguagem a um passeio de montanha-russa: até chegar a fluência, elas vão adotando e abandonando padrões de fala, como trocar fonemas (o nome que se dá ao som das letras) e omitir sons. O que isso significa? Que seu filho pode apresentar alguns problemas enquanto está aprendendo a se comunicar, mas que a maioria vai desaparecer naturalmente até os 5 anos.

Quais são os problemas de fala mais comuns e quando aparecem?
O primeiro que pode surgir é o atraso no início da fala, que é percebido quando a criança articula pouco ou quase nada aos 2 anos, idade em que deveria conseguir se comunicar com frases simples, como “me dá.” Se isso não acontece, é preciso marcar uma consulta com o fonoaudiólogo. Aos 3, acontecem as trocas de fonemas, mas isso não é necessariamente um problema. Vai depender da substituição que ele faz e da etapa em que isso acontece. Por exemplo, nessa idade é comum a criança “comer” o R (em vez de falar preto, dizer “peto”), e nem por isso é preciso procurar um especialista. De 2 a 4 anos, seu filho pode começar a repetir as palavras ou as sílabas, caso conhecido, na linguagem médica, de disfluência fisiológica. Diferentemente da gagueira (um distúrbio neurobiológico, que tem início por volta dos 5 anos e que exige tratamento especializado), essa disfluência dura cerca de seis a dez semanas e acontece porque os pensamentos da criança são mais rápidos do que a capacidade de falar, causando a repetição. E você pode ajudar. Ouça seu filho com calma e paciência, sem chamar a atenção para esse comportamento ou pedir para ele falar mais devagar – isso só vai fazê-lo se sentir inadequado. Lembre-se de que até os 5, a criança deve falar todos os sons corretamente – essa regra não vale para prematuros que, em geral, têm mais chances de sofrer atrasos no desenvolvimento. Se perceber algo diferente, procure um especialista.

Que outros fatores podem prejudicar o desenvolvimento da fala?
Problemas auditivos, neurológicos ou respiratórios, e até fatores ambientais, como falta de estímulo. Desses, os de audição são os mais comuns. “A criança que ouve pouco, balbucia pouco. Ou seja, vai ter dificuldade para aprender a falar”, diz Ignês Maia Ribeiro, diretora educacional do Instituto Brasileiro de Fluência (SP). Por isso é importante que o recém-nascido faça o teste de triagem auditiva (teste da orelhinha), gratuito e obrigatório desde 2010. Ele é realizado ainda na maternidade e avalia se o bebê tem alguma dificuldade para ouvir. Já as crianças com deficiência neurológica (inclusive as portadoras de síndromes, como a de Down) precisam de atenção especial: a maioria vai ter atraso no desenvolvimento da linguagem. Outro fator importante é a respiração. As que possuem problemas crônicos, como rinite alérgica, têm mais chances de apresentar alterações na fala pois respiram pela boca. “Isso afeta todo o processo de postura da língua e posicionamento dos dentes, o que colabora para as alterações aparecerem”, afirma Cássia Telles, fonoaudióloga do Hospital Pequeno Príncipe (PR).

Uma vez que a dificuldade foi constatada, devo ir logo ao especialista?
Sim. É importante que o fonoaudiólogo faça uma avaliação rapidamente. Mas diagnosticar o problema, em alguns casos, não significa que o tratamento vai ser iniciado naquele momento. “Quando a criança vai para a escola, é exposta ao ambiente social e percebe que sua fala está errada. Muitas vezes, essa é a hora mais adequada de interferir, pois ela fica consciente do problema e disposta a mudar o quanto antes”, diz Cássia. Ainda assim, vale dizer que somente um especialista saberá a hora certa de começar o tratamento.

E o desempenho escolar, como fica?
A principal preocupação é com a escrita. Seu filho só vai aprender a escrever direito se conseguir discriminar os sons corretamente – se tem dificuldade de articular o R e o L, vai transferir isso para o papel, por exemplo. Uma fala com problemas também prejudica a comunicação com outras crianças e dificulta a interação social.

Falar errado pode ser uma maneira de chamar a atenção?
Sim. Isso pode ser reflexo de uma situação que a criança está com dificuldade para lidar, como a chegada de um irmão. Se o fonoaudiólogo identificar que a questão é comportamental, pode, por exemplo, dar orientações do que fazer no dia a dia, como não reforçar ou corrigir o erro. Ele também pode indicar uma consulta com um psicólogo.

Como é o tratamento para os problemas de fala?
Primeiro você vai precisar encontrar um fonoaudiólogo (e, pasme, existe um tipo de especialista para cada dificuldade da fala). A terapia, em geral, acontece duas vezes por semana. Nas primeiras sessões, os pais entram junto com a criança para ela ter mais segurança. De qualquer maneira, é importante a sua participação, porque os exercícios feitos com o especialista e as orientações devem ser repetidas em casa. Dependendo do caso, é possível que a criança só vá ao especialista para que ele acompanhe o progresso, e todo o restante do tratamento seja realizado com a sua ajuda.

Qual a melhor maneira de estimular meu filho?
Uma pesquisa da Universidade de Notre Dame (EUA) mostrou que, durante o primeiro ano de vida, os bebês já identificam padrões de sons nas palavras para começar a entender o significado delas. Isso significa que eles treinam a fala muito antes de balbuciar as primeiras sílabas. Por isso, converse sempre com o seu filho (nomeie as partes do corpo na hora do banho, por exemplo) e crie oportunidades para ele falar. Se a criança apontar para algo, diga o nome do objeto antes de atender ao pedido dela. Quando disser algo errado, responda com a maneira correta, sem corrigi-la para não gerar mais insegurança. E nada de falar em “nenenês”. O tatibitate pode atrasar o aprendizado.

Você quer saber...

Chupeta e mamadeira podem interferir no desenvolvimento da fala?

Sim, principalmente se forem usadas depois dos 2 anos, quando os dentes de leite já apareceram. São eles que vão posicionar a língua de uma maneira adequada dentro da boca, e esses produtos alteram toda a estrutura dela. Além do risco de entortar os dentes, a chupeta e a mamadeira podem alterar as musculaturas da língua, dos lábios e das bochechas, que ficam flácidas, e o padrão respiratório, o que, consequentemente, atrapalha a fala.

Freio de língua preso é caso de cirurgia?

Nem sempre. Um bom termômetro é a amamentação. Se o frênulo (ou seja, o freio) for curto demais e atrapalhar a sucção do leite, é provável que ele dificulte a elevação da língua e prejudique a articulação de alguns fonemas mais tarde. A cirurgia é simples e pode ser feita desde os primeiros meses de vida da criança. O médico faz uma incisão, com anestesia local. Bebês fazem o procedimento no próprio consultório do pediatra e, em alguns casos, nem precisam levar pontos. A recuperação é rápida.

Fontes: Anelise Junqueira Bohnen, presidente do Instituto Brasileiro de Fluência; Agência Nacional de Saúde Suplementar; Cássia Telles, fonoaudiologista do Hospital Pequeno Príncipe (PR); Ignês Maia Ribeiro, diretora Educacional do Instituto Brasileiro de Fluência; Ministério da Saúde; Patrícia Junqueira, fonoaudióloga do Hospital e Maternidade São Luiz (SP); Simone Bley, fonoaudióloga audiologista do Centro de Otorrinolaringología Pediátrica de Curitiba; e Sylvio Renan Monteiro de Barros, pediatra da clínica MBA Pediatria e membro da Sociedade Brasileira de Pediatria

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Crianças com pele atópica.

Manchas vermelhas na cara e no pescoço, manchas no couro cabeludo, na barriga, nas pernas. Comichão, secura extrema, escoriações, desconforto. São cada vez mais os bebês que, desde muito cedo, por vezes com apenas quinze dias de vida, conhecem na pele os incômodos da hipersensibilidade cutânea.

Um problema que, estima-se, já afeta 15 por cento da população da Europa ocidental. As crianças mais pequenas são as mais atingidas, explica Osvaldo Correia, dermatologista: "Sessenta por cento dos casos de pele atópica (ou dermatite atópica) surgem durante os primeiros meses de vida até aos dois anos, 30 por cento aos cinco anos e apenas dez por cento ocorre entre as crianças mais velhas até a idade adulta."

Acredita-se que, no futuro, estes números possam vir a ser ainda mais elevados: "A incidência da dermatite atópica está a aumentar", refere Osvaldo Correia, explicando que o fenômeno se deve a fatores ambientais, como o pó e a poluição em geral, e alimentares, como o uso de corantes e conservantes na comida. Segundo o médico, a eliminação deste tipo de substâncias da alimentação das crianças, em particular das mais pequenas, é essencial.

A pele atópica é caracterizada pela secura e pela hipersensibilidade. Nas fases mais agudas, tudo parece provocar reações cutâneas. Alguns pais referem que até a saliva do bebê e o contacto da chupeta com a pele causam irritação. Nas muitas peregrinações ao dermatologista e a farmácia tentam descobrir a melhor arma para acalmar o prurido e o desconforto. Mas não é fácil.

Segundo Osvaldo Correia, a secura tende a agravar-se com as condições climatéricas (vento e frio). Se a pele não for devidamente hidratada, podem surgir gretas e irritabilidade. Tudo agravado, claro, pela intensa comichão que favorece o aparecimento de ainda mais lesões. Nos bebês, o rosto é a parte do corpo mais fustigada pela atopia. Mais tarde, a doença estende-se sobretudo as dobras dos membros, ao pescoço e a nuca.

A boa notícia é que, apesar de ser uma doença muito limitadora da qualidade de vida, a dermatite atópica tende a estabilizar com a idade. Cerca de 90 por cento das crianças apresentam diminuição ou desaparecimento completo das lesões antes da puberdade.

Origem imunogenética.
Frequentemente, a pele atópica passa de pais para filhos. "A prevalência nas crianças é elevada - 80 por cento - quando ambos os pais têm uma história de dermatite atópica", explica Osvaldo Correia. A origem da doença é imunogenética, "com características multifatoriais", esclarece o médico, que também é professor de Imunologia na Faculdade de Medicina do Porto. Os fatores emocionais também contribuem para o agravamento da hipersensibilidade cutânea. Osvaldo Correia lembra, por isso, a importância de evitar situações de stresse, "físico ou psíquico, em pessoas com pele atópica em qualquer idade".

Cuidados diários
Viver com dermatite atópica é uma tarefa desgastante. "O incômodo da comichão origina irritabilidade, sono intranquilo e traumatismos repetidos, por vezes quase automatizados, da pele já de si irritada", refere o dermatologista. A piorar a situação, por vezes as feridas infectam e há necessidade de recorrer a um tratamento anti-microbiano.

Osvaldo Correia enumera os cuidados que devem ser prestados a uma criança com pele atópica: "É fundamental uma boa hidratação da pele. Os banhos podem ser diários desde que rápidos e com água morna. Devem utilizar-se produtos não desengordurantes na higiene e compensar com emolientes (hidratantes) não perfumados, hipoalergênicos, sem conservantes e idealmente ricos em ceramidas." Nas crises de eczema, continua o clínico, há necessidade frequente de corticóides tópicos, mas estes devem ser "de baixa potência e apenas usados em áreas limitadas, por tempos restritos e sempre sob orientação médica".

E durante o Verão? O calor e o suor agravam os sintomas da pele atópica. Não é, por isso, muito aconselhável ir à praia ou à piscina nas fases mais agudas da doença. Em períodos mais calmos, diz o dermatologista Osvaldo Correia, não há grandes riscos de apanhar sol e mar, desde que as crianças sejam devidamente protegidas. O rol de cuidados que se devem ter é o mesmo de sempre: chapéu na cabeça, creme protetor de índice elevado em todo o corpo (renovado frequentemente), brincar à sombra e optar pelos horários menos agressivos (manhã e fim da tarde).