Dizer “por favor”, não interromper uma conversa, se comportar na hora da refeição... Algumas vezes, seu filho pode ter dificuldade em compreender regras sociais. Mas, com algumas estratégias – e muita paciência! –, é possível melhorar o comportamento dele.
Quem nunca ficou sem graça depois de o filho receber um presente e não agradecer? Ou teve que segurar o riso quando ele surgiu, durante uma visita na casa de amigos, com uma tigela de doces que foi buscar sozinho na geladeira do anfitrião? Atitudes como dizer “obrigado” e não mexer nas coisas de outras pessoas são regras que as crianças aprendem aos poucos – e sempre com a sua ajuda. A seguir, saiba como ensinar os dez principais mandamentos de boas maneiras para que seu filho faça bonito em qualquer situação social.
1. Dizer "por favor"
O primeiro passo para que as crianças aprendam essa palavra é, claro, ouvi-la dentro e fora de casa. Ou seja: se esse for um hábito diário entre os adultos e você der o exemplo, será mais fácil cobrar o mesmo comportamento dos pequenos. E não espere que seu filho tenha tudo na ponta da língua tão rapidamente. É preciso lembrar o pedido a cada situação até que, aos poucos, ele adquira o costume e saiba quando usá-lo. “Em casa, a ‘palavrinha mágica’ vem de mim, do pai e da babá. Se eles não pedirem algo com ‘por favor’, não cedemos. Meu conselho é pensar nisso como um treino que envolve todas as pessoas à volta da criança”, diz Ana Vaz, consultora de etiqueta e de imagem e mãe de Theodoro, 6 anos, e Helena, 4. Insistir, portanto, é necessário - até porque esse entendimento está relacionado à faixa etária em que a criança se encontra. Apenas por volta de 4 ou 5 anos é que elas vão compreender normas sociais mais facilmente, como explica Teresa Ruas, terapeuta ocupacional especialista em desenvolvimento infantil, de São Paulo (SP). “Até 2 ou 3 anos de idade, as crianças ainda são egocêntricas, não conseguem se colocar no lugar do outro. E essa característica faz parte do desenvolvimento cognitivo. Só mais tarde vão entender conceitos como igualdade, respeito e solidariedade”, explica.
2. Emprestar o brinquedo
Vale seguir a mesma lógica da fase em que se encontra a criança. Se ela tem até 3 anos, em média, terá dificuldades em entregar algo que é dela para outra pessoa ou entender que o emprestado será devolvido. Mas, quando não é possível escapar da situação, procure inicialmente estabelecer trocas. Ter à mão alguns objetos repetidos (mais de uma bola, mais de um carrinho) também é outra dica, caso você saiba que vai encontrar outras crianças da mesma idade ou quando a visita é na sua casa. Conviver com irmãos, primos e colegas de escola também torna o processo mais fácil. “Jogos e brinquedos que favorecem o ‘brincar junto’ contribuem bastante para esse aprendizado”, explica Everson Caleff, diretor educacional do Colégio Marista Santa Maria, em Curitiba (PR). A criança pode aprender, dessa maneira, que ter um companheiro pode até ser mais divertido do que usar apenas aquilo que é “dela”.
Obrigar seu filho a entregar o brinquedo, no entanto, pode não ser a melhor saída. É melhor estimulá-lo a dividir e chamar o amigo para brincar junto. O contrário também vale: quando seu filho pede algo emprestado, a resposta pode ser “não” - e é necessário aprender isso também. Para controlar o choro nessa hora, busque alternativas para distrair a criança. “Eu sempre negocio uma troca, mas quando não dá certo, tento mudar o foco para outra brincadeira”, diz a empresária Kátia Parreira, mãe de Carolina, 6 anos, e Gabriela, 2 anos e 8 meses.
3. Agradecer quando ganha um presente
Nessa situação, o importante é mostrar ao seu filho que outra pessoa se importou com ele e, por isso, merece um agradecimento. O mesmo vale para quando recebe um elogio. E não tem segredo: a recomendação é pedir à criança que agradeça sempre - mesmo que saia aquele “obrigado” meio atravessado. Se isso acontecer, não dê bronca. O motivo está na famosa sinceridade infantil. “Quando a minha filha realmente gostava, o ‘obrigada’ saía junto com um ‘adorei!’, com um abraço... Mas quando o presente não era muito interessante, o agradecimento saía, mas com um sorriso meio amarelado. Isso foi impossível mudar”, diz a professora de Educação Física Nadia Regina Dalla Barba, mãe de Marina, 12.
A especialista Teresa explica que há ainda mais uma questão a ser levada em conta: a proximidade (ou a intimidade) com a pessoa que deu o presente. “A criança pode ter ou não empatia por quem deu o presente. E isso também influencia a resposta”, diz. Não dê muita importância ao assunto, pois geralmente o adulto que presenteou ou elogiou entende a situação. Mas, se você ficou sem graça com a atitude de seu filho, é só pedir desculpas mais tarde para quem o presenteou.
4. Pedir desculpa
Não basta apenas obrigar seu filho repetir a palavra. É preciso explicar o motivo de ele pedir desculpas. E, assim como nas outras situações já citadas, considere a idade da criança, pois o pedido também está relacionado à aquisição do senso moral. Se o seu pequeno de 3 anos empurrou o amigo, por exemplo, o ideal é explicar que aquilo não é certo e incentivá-los a fazer as pazes (sem muitas delongas sobre o assunto). Depois, por volta dos 4 anos, ele vai compreender melhor o sentido de certo e errado e, então, vale uma explicação mais longa, falando que não é legal fazer com os outros aquilo que não gostamos que façam com a gente e que, quando isso acontece, é preciso reconhecer o erro e se desculpar. A partir dos 6 anos, quando esses conceitos estão mais claros para a criança, vale investir em algum tipo de reparação, ou seja, em uma atitude que aconteça a partir do pedido de desculpas. O objetivo é ensinar a importância de respeitar o outro e não banalizar o “sinto muito”. E, sim, será preciso repetir a mesma ação até a criança entender que aquilo não pode ser feito. “Às vezes, percebo que meus filhos dizem 'desculpa’ quase ‘rosnando’ e eu peço para falar de novo”, diz Ana Vaz. Isso porque o pedido não pode vir só “da boca para fora”, para se livrar da bronca. Ele deve ser feito porque a criança realmente entendeu o erro.
5. Não interromper enquanto os adultos conversam
Principalmente por volta dos 2 anos, a criança vai interromper o papo. E esse é um comportamento normal, que faz parte da fase egocêntrica pela qual ela está passando. “Na verdade, o estranho seria nunca interromper, já que, nesse período, ela se considera o centro das atenções”, afirma Teresa. Portanto, tente incluir seu filho de alguma maneira. Está em uma festa de família? Peça para que ele fique perto e que interaja também coma pessoa com quem você está conversando. Ou deixe o bate- papo para mais tarde. “Quando estou com as crianças, não costumo ter longas conversas com outros adultos. O programa é realmente mais voltado a elas. Mas, quando acontece, não tem segredo: é só pedir. A mais velha já sabe, só com um olhar meu, que é para esperar um pouco”, conta Kátia Parreira.
No caso de seu filho ser um pouco mais velho (a partir de 4 anos), já é mais fácil explicar a situação e dizer que, quando duas ou mais pessoas conversam, cada uma tem sua vez para falar - e que é preciso esperar. Mas, não se esqueça: assim como toda regra de convívio social, será necessário repetir mais de uma vez.
6. Não cutucar o nariz
A criança passa por um processo acelerado de conhecimento durante a primeira infância. E esse tipo de “exploração” do corpo é comum entre a garotada. O mesmo vale para “puns” e arrotos. O ideal é explicar que são atitudes privadas - assim como é preciso fechar a porta para fazer xixi, por exemplo. Essa é a tática da advogada Carolina Santana Maluf, mãe de Ricardo, 6 anos. “Cutucar o nariz é mais forte que ele (risos). Mas costumo explicar que existem algumas coisas que não podemos fazer na frente de outras pessoas, como limpar alguma sujeira do nosso corpo”, diz Carolina. Para os mais novos, principalmente, é preciso dizer sempre, todo dia, até que entendam. Viu seu filho com o dedo no nariz no meio deuma festa de casamento? Leve-o ao banheiro para limpar. E pronto. Evite dar um tapinha na mão ou chamar atenção para o fato. Geralmente, ele nem se dá conta do que está fazendo. A sugestão de Ligia Marques, consultora em etiqueta e marketing pessoal, é combinar com seu filho um código discreto ao chamar sua atenção - e ter paciência. Como tempo, ele vai aprender.
Também vale apelar para o bom humor, como nos versos de Guto Lins em Manual de Boas Maneiras - para Crianças de Todas as Idades (Ed. Globinho): “Meleca se tira com lenço, na pia ou no chafariz. Só não é muito legal por a mão no nariz.”
7. Não abrir a geladeira na casa dos outros
Essa atitude está relacionada à ideia de “nossa casa” e “casa dos outros”. A alternativa é fazer seu filho compreender que ele não pode mexer no que não é dele (o que inclui a geladeira). Não precisa dizer ao seu filho - principalmente se ele ainda for bem novinho - , que é falta de educação na frente de todo mundo. Até porque o adulto que é dono da casa costuma reagir com bom humor à cena. De qualquer maneira, vale sempre reforçar a recomendação de que, quando está fora de casa, é preciso pedir quando deseja alguma coisa. “Também pergunte, por exemplo, se ele gostaria que as pessoas que vão à sua casa remexessem em tudo”, diz a consultora de etiqueta Ligia. Aos poucos, a criança vai aprender como se comportar nessas situações.
8. Respeitar os mais velhos
Seja com os mais próximos, como os avós, ou com aqueles que vê de vez em quando, como um vizinho, seu filho provavelmente vai conviver com pessoas mais velhas. “Para que aprenda a respeitá-las, sempre digo ao Lucas, hoje com 7 anos, que ele não deve fazer a alguém o que não gostaria que fizessem com ele”, diz Ellen Julião Bachiega, arquiteta e designer de festas infantis, mãe também de Gabriel e de Rafael, gêmeos de 1 ano e 10 meses. Além do diálogo, o ideal, como sempre, é partir de situações rotineiras. Explique ao seu filho, por exemplo, que o jeito de brincar com o avô é diferente da maneira com que ele se diverte com o amigo da escola e que eles têm o seu próprio tempo. Também vale lembrar que os idosos são pessoas mais experientes e, por isso, devem ser ouvidos. “Diga que eles já viveram mais e, por mais ‘chatos’ que às vezes possam parecer, fazem e dizem as coisas com a intenção de ajudar”, diz Ligia.
Outra dica para fazê-los compreender a maneira de se relacionar com os mais velhos é ter a literatura como aliada. Que tal passar a tarde em uma livraria e ler, com as crianças, obras que abordam a relação com os avós (ou com os idosos em geral), como as de Monteiro Lobato? É um jeito mais “leve” de tratar a questão. Por fim, dê o exemplo. Não adianta você exigir que seu filho trate bem os mais velhos se você mesmo não dá lugar para um idoso sentar ou reclama quando passam na sua frente em uma fila.
9. Fazer as refeições com tranquilidade
O ideal é tornar a hora de comer a mais organizada possível. Acompanhe a criança enquanto ela se alimenta e evite interrupções que possam distraí-la. Também diga que é importante ficar sentado durante a refeição para que a comida não faça mal. Ana Vaz conta que, com os seus filhos, faz uma brincadeira: quem ficar na mesa até o fim, ganha pontos.
Quando o almoço ou jantar é em um restaurante, distrair a criança é uma boa alternativa. Uma dica é procurar locais com áreas de recreação (mas combine que poderá brincar só depois de comer) e levar brinquedos, jogos, papel e caneta para que se distraia enquanto a comida não vem. Explique também que, se ela se levantar antes de terminar de comer, seu prato será retirado. Outra dica para o caso daqueles muito agitados (em casa ou fora) é “cansá-los” antes da refeição: leve para um passeio ou deixe que brinque bastante antes de comer.
Quem tem mais de uma criança em casa e percebe diferença entre as duas, respeitar o ritmo de cada uma também é necessário. O filho mais velho do poeta e designer Guto Lins, pai de João, 13 anos, e Antonio, 9, é muito autônomo e acelerado. “Ele sempre comeu mais rápido do que o irmão e, por isso, saía antes da mesa”, diz. Lidar com essa diferença pode ser uma boa estratégia enquanto os filhos são pequenos. Depois, devem ter paciência para só se
levantar quando todo mundo acabar.
10. Saber esperar
Seja na fila do parque ou na sala de espera do consultório médico, é comum ver uma criança inquieta. Essa ansiedade começa ainda na fase de bebê e está relacionada à rapidez com que ele tem suas necessidades atendidas. É preciso ter paciência para que, aos poucos, seu filho aprenda a ser mais paciente, mas há algumas atitudes suas que podem ajudar. Quebrou ou perdeu um brinquedo? Não precisa comprar outro imediatamente, diga que em outra ocasião você dá um novo, ou que tal pedir para o Papai Noel? Quando a ansiedade está relacionada a alguma viagem ou festa que vai acontecer, espere para contar sobre o evento quando estiver mais próximo à data.
Em situações que não dá para escapar da espera, procure sempre ter na bolsa um brinquedo, um tablet, um livro, um game ou, dependendo do horário, algo para comer ou beber. Por fim, sempre vale repetir (mesmo para as mais novas) que “tudo tem a sua hora”. A criança precisa saber que chegará a sua vez, mas isso precisa ser mostrado com ações. Atue sempre da mesma maneira com seu filho até o momento que ele consiga ter o que está esperando. Outra dica: se está em um restaurante, por exemplo, que tal explicar (de um jeito que ele entenda, claro) como se dá o processo de preparação de um alimento? “Fale do cuidado e do tempo que é necessário para preparar aquilo que comemos. Provavelmente, ele não vai entender na primeira, segunda ou terceira vez. Mas, aos poucos, começa a compreender que nem tudo está pronto e acabado, esperando para atender seus desejos”, diz o educador Everson Caleff.
Outras fontes: Fernanda Gimenes, diretora do currículo de português da Escola Cidade Jardim / Play Pen, de São Paulo (SP), e Luciana Lapa, psicóloga e orientadora educacional do ensino fundamental 1 na Escola Stance Dual (SP)
1. Dizer "por favor"
O primeiro passo para que as crianças aprendam essa palavra é, claro, ouvi-la dentro e fora de casa. Ou seja: se esse for um hábito diário entre os adultos e você der o exemplo, será mais fácil cobrar o mesmo comportamento dos pequenos. E não espere que seu filho tenha tudo na ponta da língua tão rapidamente. É preciso lembrar o pedido a cada situação até que, aos poucos, ele adquira o costume e saiba quando usá-lo. “Em casa, a ‘palavrinha mágica’ vem de mim, do pai e da babá. Se eles não pedirem algo com ‘por favor’, não cedemos. Meu conselho é pensar nisso como um treino que envolve todas as pessoas à volta da criança”, diz Ana Vaz, consultora de etiqueta e de imagem e mãe de Theodoro, 6 anos, e Helena, 4. Insistir, portanto, é necessário - até porque esse entendimento está relacionado à faixa etária em que a criança se encontra. Apenas por volta de 4 ou 5 anos é que elas vão compreender normas sociais mais facilmente, como explica Teresa Ruas, terapeuta ocupacional especialista em desenvolvimento infantil, de São Paulo (SP). “Até 2 ou 3 anos de idade, as crianças ainda são egocêntricas, não conseguem se colocar no lugar do outro. E essa característica faz parte do desenvolvimento cognitivo. Só mais tarde vão entender conceitos como igualdade, respeito e solidariedade”, explica.
2. Emprestar o brinquedo
Vale seguir a mesma lógica da fase em que se encontra a criança. Se ela tem até 3 anos, em média, terá dificuldades em entregar algo que é dela para outra pessoa ou entender que o emprestado será devolvido. Mas, quando não é possível escapar da situação, procure inicialmente estabelecer trocas. Ter à mão alguns objetos repetidos (mais de uma bola, mais de um carrinho) também é outra dica, caso você saiba que vai encontrar outras crianças da mesma idade ou quando a visita é na sua casa. Conviver com irmãos, primos e colegas de escola também torna o processo mais fácil. “Jogos e brinquedos que favorecem o ‘brincar junto’ contribuem bastante para esse aprendizado”, explica Everson Caleff, diretor educacional do Colégio Marista Santa Maria, em Curitiba (PR). A criança pode aprender, dessa maneira, que ter um companheiro pode até ser mais divertido do que usar apenas aquilo que é “dela”.
Obrigar seu filho a entregar o brinquedo, no entanto, pode não ser a melhor saída. É melhor estimulá-lo a dividir e chamar o amigo para brincar junto. O contrário também vale: quando seu filho pede algo emprestado, a resposta pode ser “não” - e é necessário aprender isso também. Para controlar o choro nessa hora, busque alternativas para distrair a criança. “Eu sempre negocio uma troca, mas quando não dá certo, tento mudar o foco para outra brincadeira”, diz a empresária Kátia Parreira, mãe de Carolina, 6 anos, e Gabriela, 2 anos e 8 meses.
3. Agradecer quando ganha um presente
Nessa situação, o importante é mostrar ao seu filho que outra pessoa se importou com ele e, por isso, merece um agradecimento. O mesmo vale para quando recebe um elogio. E não tem segredo: a recomendação é pedir à criança que agradeça sempre - mesmo que saia aquele “obrigado” meio atravessado. Se isso acontecer, não dê bronca. O motivo está na famosa sinceridade infantil. “Quando a minha filha realmente gostava, o ‘obrigada’ saía junto com um ‘adorei!’, com um abraço... Mas quando o presente não era muito interessante, o agradecimento saía, mas com um sorriso meio amarelado. Isso foi impossível mudar”, diz a professora de Educação Física Nadia Regina Dalla Barba, mãe de Marina, 12.
A especialista Teresa explica que há ainda mais uma questão a ser levada em conta: a proximidade (ou a intimidade) com a pessoa que deu o presente. “A criança pode ter ou não empatia por quem deu o presente. E isso também influencia a resposta”, diz. Não dê muita importância ao assunto, pois geralmente o adulto que presenteou ou elogiou entende a situação. Mas, se você ficou sem graça com a atitude de seu filho, é só pedir desculpas mais tarde para quem o presenteou.
4. Pedir desculpa
Não basta apenas obrigar seu filho repetir a palavra. É preciso explicar o motivo de ele pedir desculpas. E, assim como nas outras situações já citadas, considere a idade da criança, pois o pedido também está relacionado à aquisição do senso moral. Se o seu pequeno de 3 anos empurrou o amigo, por exemplo, o ideal é explicar que aquilo não é certo e incentivá-los a fazer as pazes (sem muitas delongas sobre o assunto). Depois, por volta dos 4 anos, ele vai compreender melhor o sentido de certo e errado e, então, vale uma explicação mais longa, falando que não é legal fazer com os outros aquilo que não gostamos que façam com a gente e que, quando isso acontece, é preciso reconhecer o erro e se desculpar. A partir dos 6 anos, quando esses conceitos estão mais claros para a criança, vale investir em algum tipo de reparação, ou seja, em uma atitude que aconteça a partir do pedido de desculpas. O objetivo é ensinar a importância de respeitar o outro e não banalizar o “sinto muito”. E, sim, será preciso repetir a mesma ação até a criança entender que aquilo não pode ser feito. “Às vezes, percebo que meus filhos dizem 'desculpa’ quase ‘rosnando’ e eu peço para falar de novo”, diz Ana Vaz. Isso porque o pedido não pode vir só “da boca para fora”, para se livrar da bronca. Ele deve ser feito porque a criança realmente entendeu o erro.
5. Não interromper enquanto os adultos conversam
Principalmente por volta dos 2 anos, a criança vai interromper o papo. E esse é um comportamento normal, que faz parte da fase egocêntrica pela qual ela está passando. “Na verdade, o estranho seria nunca interromper, já que, nesse período, ela se considera o centro das atenções”, afirma Teresa. Portanto, tente incluir seu filho de alguma maneira. Está em uma festa de família? Peça para que ele fique perto e que interaja também coma pessoa com quem você está conversando. Ou deixe o bate- papo para mais tarde. “Quando estou com as crianças, não costumo ter longas conversas com outros adultos. O programa é realmente mais voltado a elas. Mas, quando acontece, não tem segredo: é só pedir. A mais velha já sabe, só com um olhar meu, que é para esperar um pouco”, conta Kátia Parreira.
No caso de seu filho ser um pouco mais velho (a partir de 4 anos), já é mais fácil explicar a situação e dizer que, quando duas ou mais pessoas conversam, cada uma tem sua vez para falar - e que é preciso esperar. Mas, não se esqueça: assim como toda regra de convívio social, será necessário repetir mais de uma vez.
6. Não cutucar o nariz
A criança passa por um processo acelerado de conhecimento durante a primeira infância. E esse tipo de “exploração” do corpo é comum entre a garotada. O mesmo vale para “puns” e arrotos. O ideal é explicar que são atitudes privadas - assim como é preciso fechar a porta para fazer xixi, por exemplo. Essa é a tática da advogada Carolina Santana Maluf, mãe de Ricardo, 6 anos. “Cutucar o nariz é mais forte que ele (risos). Mas costumo explicar que existem algumas coisas que não podemos fazer na frente de outras pessoas, como limpar alguma sujeira do nosso corpo”, diz Carolina. Para os mais novos, principalmente, é preciso dizer sempre, todo dia, até que entendam. Viu seu filho com o dedo no nariz no meio deuma festa de casamento? Leve-o ao banheiro para limpar. E pronto. Evite dar um tapinha na mão ou chamar atenção para o fato. Geralmente, ele nem se dá conta do que está fazendo. A sugestão de Ligia Marques, consultora em etiqueta e marketing pessoal, é combinar com seu filho um código discreto ao chamar sua atenção - e ter paciência. Como tempo, ele vai aprender.
Também vale apelar para o bom humor, como nos versos de Guto Lins em Manual de Boas Maneiras - para Crianças de Todas as Idades (Ed. Globinho): “Meleca se tira com lenço, na pia ou no chafariz. Só não é muito legal por a mão no nariz.”
7. Não abrir a geladeira na casa dos outros
Essa atitude está relacionada à ideia de “nossa casa” e “casa dos outros”. A alternativa é fazer seu filho compreender que ele não pode mexer no que não é dele (o que inclui a geladeira). Não precisa dizer ao seu filho - principalmente se ele ainda for bem novinho - , que é falta de educação na frente de todo mundo. Até porque o adulto que é dono da casa costuma reagir com bom humor à cena. De qualquer maneira, vale sempre reforçar a recomendação de que, quando está fora de casa, é preciso pedir quando deseja alguma coisa. “Também pergunte, por exemplo, se ele gostaria que as pessoas que vão à sua casa remexessem em tudo”, diz a consultora de etiqueta Ligia. Aos poucos, a criança vai aprender como se comportar nessas situações.
8. Respeitar os mais velhos
Seja com os mais próximos, como os avós, ou com aqueles que vê de vez em quando, como um vizinho, seu filho provavelmente vai conviver com pessoas mais velhas. “Para que aprenda a respeitá-las, sempre digo ao Lucas, hoje com 7 anos, que ele não deve fazer a alguém o que não gostaria que fizessem com ele”, diz Ellen Julião Bachiega, arquiteta e designer de festas infantis, mãe também de Gabriel e de Rafael, gêmeos de 1 ano e 10 meses. Além do diálogo, o ideal, como sempre, é partir de situações rotineiras. Explique ao seu filho, por exemplo, que o jeito de brincar com o avô é diferente da maneira com que ele se diverte com o amigo da escola e que eles têm o seu próprio tempo. Também vale lembrar que os idosos são pessoas mais experientes e, por isso, devem ser ouvidos. “Diga que eles já viveram mais e, por mais ‘chatos’ que às vezes possam parecer, fazem e dizem as coisas com a intenção de ajudar”, diz Ligia.
Outra dica para fazê-los compreender a maneira de se relacionar com os mais velhos é ter a literatura como aliada. Que tal passar a tarde em uma livraria e ler, com as crianças, obras que abordam a relação com os avós (ou com os idosos em geral), como as de Monteiro Lobato? É um jeito mais “leve” de tratar a questão. Por fim, dê o exemplo. Não adianta você exigir que seu filho trate bem os mais velhos se você mesmo não dá lugar para um idoso sentar ou reclama quando passam na sua frente em uma fila.
9. Fazer as refeições com tranquilidade
O ideal é tornar a hora de comer a mais organizada possível. Acompanhe a criança enquanto ela se alimenta e evite interrupções que possam distraí-la. Também diga que é importante ficar sentado durante a refeição para que a comida não faça mal. Ana Vaz conta que, com os seus filhos, faz uma brincadeira: quem ficar na mesa até o fim, ganha pontos.
Quando o almoço ou jantar é em um restaurante, distrair a criança é uma boa alternativa. Uma dica é procurar locais com áreas de recreação (mas combine que poderá brincar só depois de comer) e levar brinquedos, jogos, papel e caneta para que se distraia enquanto a comida não vem. Explique também que, se ela se levantar antes de terminar de comer, seu prato será retirado. Outra dica para o caso daqueles muito agitados (em casa ou fora) é “cansá-los” antes da refeição: leve para um passeio ou deixe que brinque bastante antes de comer.
Quem tem mais de uma criança em casa e percebe diferença entre as duas, respeitar o ritmo de cada uma também é necessário. O filho mais velho do poeta e designer Guto Lins, pai de João, 13 anos, e Antonio, 9, é muito autônomo e acelerado. “Ele sempre comeu mais rápido do que o irmão e, por isso, saía antes da mesa”, diz. Lidar com essa diferença pode ser uma boa estratégia enquanto os filhos são pequenos. Depois, devem ter paciência para só se
levantar quando todo mundo acabar.
10. Saber esperar
Seja na fila do parque ou na sala de espera do consultório médico, é comum ver uma criança inquieta. Essa ansiedade começa ainda na fase de bebê e está relacionada à rapidez com que ele tem suas necessidades atendidas. É preciso ter paciência para que, aos poucos, seu filho aprenda a ser mais paciente, mas há algumas atitudes suas que podem ajudar. Quebrou ou perdeu um brinquedo? Não precisa comprar outro imediatamente, diga que em outra ocasião você dá um novo, ou que tal pedir para o Papai Noel? Quando a ansiedade está relacionada a alguma viagem ou festa que vai acontecer, espere para contar sobre o evento quando estiver mais próximo à data.
Em situações que não dá para escapar da espera, procure sempre ter na bolsa um brinquedo, um tablet, um livro, um game ou, dependendo do horário, algo para comer ou beber. Por fim, sempre vale repetir (mesmo para as mais novas) que “tudo tem a sua hora”. A criança precisa saber que chegará a sua vez, mas isso precisa ser mostrado com ações. Atue sempre da mesma maneira com seu filho até o momento que ele consiga ter o que está esperando. Outra dica: se está em um restaurante, por exemplo, que tal explicar (de um jeito que ele entenda, claro) como se dá o processo de preparação de um alimento? “Fale do cuidado e do tempo que é necessário para preparar aquilo que comemos. Provavelmente, ele não vai entender na primeira, segunda ou terceira vez. Mas, aos poucos, começa a compreender que nem tudo está pronto e acabado, esperando para atender seus desejos”, diz o educador Everson Caleff.
Outras fontes: Fernanda Gimenes, diretora do currículo de português da Escola Cidade Jardim / Play Pen, de São Paulo (SP), e Luciana Lapa, psicóloga e orientadora educacional do ensino fundamental 1 na Escola Stance Dual (SP)
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